IH! Deu branco!

A angústia de não conseguir iniciar um texto é a da dificuldade de romper um silêncio constrangedor. Nem é preciso ser um poeta ou escritor para ter provado essa sensação. A mente divaga, faltam palavras, parece que tudo o que foi aprendido perde a eficácia e a forma, incapaz de transformar em frases.

A escritora Sônia Belotto, professora de oficinas de escrita, orienta que, há três fatos para isso não acontecer: “dominar o assunto escolhido, dominar as técnicas da escrita e conhecer o público”.

A revista Língua reúne a seguir dicas de profissionais da escrita. São sugestões úteis até para quem não depende tanto da escrita para viver.

• Anote as ideias: a organização dos pensamentos é uma etapa fundamental na preparação que precede um texto bem redigido. Em primeiro lugar é preciso anotar todas as ideias que passam pela cabeça em relação ao assunto sobre o qual se quer escrever. Porém, antes mesmo de se sentar para colocar as ideias no papel, convém definir as formas de se tratar o assunto, tendo em mente, sempre, a necessidade de despertar e capturar o interesse do leitor.
• Identificar com o que vai dizer: para Edwiges Morato, livre-docente do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, aquilo que se põe no papel deve fazer sentido a quem escreve, ou haverá dificuldades de iniciar o texto justamente por não haver identidade com o tema.
• Evite o perfeccionismo: ainda que o lapso seja normal no processo linguístico, escrever não é, para muitas pessoas, uma tarefa simples como falar. Não há um motivo especial para que isso aconteça, mas existem razões que podem causar esse bloqueio. Uma das mais comuns é a psicológica: o medo de começar a escrever é o medo de que o resultado não seja bom.
• Descarte a solução burocrática: anotadas as ideias, é hora de perder o medo da página em branco. Na falta do começo ideal para seu texto, não vale escrever qualquer coisa e seguir a diante, só para tirar o bloqueio do caminho. Acima de tudo, é preciso encarar essa dificuldade de começar um texto como algo normal, que a maioria das pessoas enfrenta e faz parte do processo de construção linguística.
• Construa um caminho próprio: encarar um texto com objetividade é uma boa pista para não travar já ao começar um texto. Ainda que o conteúdo possa ser subjetivo, a tarefa de coloca-lo no papel deve ser objetiva. Isso significa construir uma estrutura textual e traçar um planejamento detalhado do que será escrito e como isso será feito. Por isso, a sugestão é fazer esboço e esquemas para montar um esqueleto sólido e suficiente para não dar margem ao bloqueio – afinal, já se sabe o que será escrito.
• Administre prazos: Construir uma estrutura para o texto e praticar a leitura e a escrita são estratégias eficazes, mas que toma certo tempo. Por isso, nada como aproximação do dia ou horário de entrega de um texto para soltar as amarras que o impediam de fluir. Sérgio Rizzo diz que muitos de seus melhores textos foram produzidos próximos ao deadline, como sua criatividade funcionasse melhor.
• Exercitar é vital: Não tem jeito: a facilidade de começar um texto e desenvolver um texto só chega com a prática e o exercício constante. É irreal – ou, pelo menos, raro – esperar que um texto surja pronto na cabeça de um momento para o outro, como uma inspiração divina. Por isso, a dica da escritora e editora Sônia Belotto é estipular um horário fixo diariamente e escrever, pelo menos, uma página, o que o levará rapidamente a escrever de forma natural e dinâmica.

Agora que têm todas estas dicas, é a sua vez de coloca-las em prática. Pegue uma folha em branco e bom texto. Revista Língua, nº 68, junho de 2011.